terça-feira, 15 de outubro de 2013

A folha e o vento - Maria Alberta Menéres




Era uma árvore bonita, de grandes braços abertos à claridade das manhãs.
Um dia, já quase no findar do Outono, ela reparou, com grande espanto, que por mais forte que soprasse o vento, por mais impiedosas que tombassem as primeiras chuvas a anunciar o Inverno, uma pequenina e teimosa folhinha continuava bem agarrada a um fino tronco, lá no cocuruto da sua cabeça!
E ao cair de certa tarde, resolveu falar muito a sério com ela. Só que... a conversa de nada valeu! E a árvore não teve outro remédio senão justificar-se - o que nunca, em tantos anos da vida lhe tinha acontecido:
- É a minha filha mais nova, senhor vento.
Tem medo de se largar! Diz que nasceu lá muito no alto...
- Medo?! Medo de quê?! - admirou-se o vento. Quando eu sopro, todas as folhas se soltam com alegria, esvoaçam por uns instantes no ar e depois poisam suavemente no chão. Sempre foi assim!
- Eu sei, senhor vento. Mas a minha filha é muito pequenina e não está habituada a cair assim de qualquer maneira. Diz que tem medo de se magoar! Temos de ter paciência.
O vento aninhou-se por ali, à espera.
A certa altura, ouviu uma voz aflita que lhe pareceu vir de muito alto:
- Mamã, não me digas que é muito fácil e não custa nada! Eu sei muito bem que já me devia ter largado ao vento... mas agora não! Não vejo nada! Não sou capaz de saltar nesta horrível escuridão! Amanhã...
- Nem amanhã, nem depois de amanhã! A menina ouviu?! É agora! Onde é que já se ouviu uma folhinha ter medo de cair?! 

Maria Alberta Menéres

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