sábado, 8 de fevereiro de 2014

Mãe, em que história seria? - Maria Alberta Menéres



"Havia um peixe no ar,
um papagaio no mar,
uma lâmpada no olhar,
um cogumelo a chorar.


- Mãe, em que história seria?


A princesa na floresta
bebia orvalho e cantava,
de sua boca tombando
o que de sonho tombava.


- Mãe, em que história eu fugia?


Doze anões e uma antiga
Branca de Neve, quem sabe?
Havia um gato de botas
onde o meu pé já não cabe.


- Mãe, em que história aparecia?


Ah, montanhas de cristal
onde um cavalo espantava
e um espelho que tudo via
mil respostas me não dava.


- Mãe, em que história eu dormia?


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Como motivar os alunos para a leitura


 

Iela Mari (1931-2014)

A ilustradora italiana Iela Mari morreu a 29 de janeiro, aos 82 anos, e a morte foi revelada alguns dias depois num jornal italiano (e entretanto confirmada pela editora kalandraka).

Gabriela Ferrano, conhecida como Iela Mari (adotando o apelido do marido, Enzo Mari), é autora de livros para a infância que partilham alguns elementos comuns: não existe texto e toda a narrativa está assente na ilustração, com um forte pendor gráfico, abordando quase sempre a natureza e partindo da ideia de que o pequeno leitor pensa por associações de ideias.




Iela Mari teve uma visão muito à frente do seu tempo, inovadora e arrojada sobre o que podia ser um livro para crianças.
A sua obra de foi publicada em particular entre os anos 1960 e 1980 - alguns livros foram feitos com Enzo Mari, designer - tendo chegado a Portugal pela editora Sá da Costa e mais tarde pela Kalandraka.





Em Portugal estão publicados "A árvore", obra que foi rebatizada mais tarde como "As estações", "O ovo e a galinha", "A maçã e a lagarta" e "o balãozinho vermelho", a primeira obra da artista e possivelmente a mais conhecida no nosso país.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Histórias que ajudam... no divórcio

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A serenidade dos papás era branca. Parecia a neve que cai no bosque no mês do Natal. Ou o doce açúcar que a avó Berta polvilha por cima das suas tartes. E essa branca serenidade trouxe à boca da Matilde palavras que, embora trémulas e hesitantes, tinham em si a forte certeza de que tudo ficaria bem.


– Vou passar a ter duas famílias? Vou viver com quem?



– Meu amor, passarás a ter duas casas, mas a família é só uma e estará sempre unida por ti e para ti. Uma família que resolverá quaisquer problemas que surjam, uma família que comemorará tudo o que de importante acontecer na tua vida. Achas que a mamã ou o papá deixariam de assistir à peça de teatro da festa de fim de ano da escola?! Ou que não te acompanhariam ao hospital se partisses uma patita?! – perguntou a mamã, deixando bem claro que só uma mudança aconteceria na vida da Matilde: passaria a ter duas tocas e viveria com o papá e a mamã, embora em casas separadas.



– Uns dias dormirás aqui nesta toca, noutros irás dormir à toca do papá. Tanto a mamã como o papá continuarão a dar-te banho, a ajudar nos trabalhos-de-casa, a passear contigo! Ah, temos que escolher a cor para pintar o teu quarto, filha! – exclamou o pai, entusiasmado.



– Hum mm… talvez cor-de-laranja, como as cenouras… – respondeu Matilde, sorridente. Por momentos lembrou-se da alegria do colega Tomás, apesar de falar dos pais que viviam separados. E agora compreendia porquê. A mamã e o papá estarão sempre presentes na vida dos filhos e, todos juntos, serão sempre uma família.



Mas, logo em seguida, os olhos de Matilde voltaram-se para o chão e entristeceram-se. As suas grandes orelhas baixaram-se sobre eles, tentando ocultar as redondas lágrimas que rolavam devagar pelos seus bigodes. Depois, palavras lentas, pequeninas e tristes saíram da sua boca:



– Vão separar-se porque às vezes porto-me mal, não é? Como no outro dia em que saltei tanto no sofá que caí e parti a jarra de flores que a avó Berta tinha oferecido?...



– Matilde, minha querida, os papás vão separar-se porque deixaram de gostar um do outro enquanto namorados, mas continuarão sempre a gostar-se enquanto teus pais. Talvez tenhas reparado que ultimamente não andamos tão carinhosos ou até que às vezes temos discutido… Foram os sinais de que a nossa relação de amor chegou ao fim. Mas o amor que temos por ti, esse, só pode continuar a crescer e é tão certo existir como todas as noites o sol dormir e a lua acordar.



Nesse instante, Matilde olhou lá para fora e viu que o sol já se punha, deixando o céu com a sua cor preferida. Limpando as lágrimas e sentindo no coração a certeza de não vir a perder nunca o pai ou a mãe, deu-lhes as mãos e disse, sorridente e orgulhosa:



– Hoje na escola fizemos um trabalho sobre a família. Escrevemos um texto que vai amanhã ser afixado no átrio. Vou pedir à professora para acrescentar uma frase.



– Qual, Matilde? – perguntou a mamã, curiosa.



Família é quem nos assegura estar sempre aqui, mesmo que more noutra casa.



Os três deram um abraço. E, desta vez, as palavras dos papás substituíram o silêncio.



– Amo-te, Matilde – disseram os pais em uníssono.

Rute Reimão