O Natal já estava por toda parte, nas lojas, na televisão, em algumas casas enfeitadas com lâmpadas que acendiam e apagavam, deixando as noites alegres à espera do dia tão festejado, principalmente pelas crianças, que sonhavam com seus presentes natalícios.
Músicas de Natal ecoavam nas lojas, na televisão, e na casa de Afonsinho.
Dona Amélia sua mãe, já queria um pinheiro para a árvore de Natal de 2011.
- Preciso do pinheiro de Natal, dizia a mãe de Afonsinho. Vá com seu irmão até o pinheiral, e cortem o mais bonito que acharem.
- Vamos correndo Afonsinho, vamos logo dizia Paulo, seu irmão caçula.
- Não posso correr minha perna não ajuda, você sabe disso...
Andando com passos apressados, Afonsinho olhava seu irmão Paulo que corria para o pinheiral, carregando um facão.
Por que minha mãe não me levou para tomar a vacina contra a paralisia? Será que ela não sabia, pensava ele.
Hoje carrego este aleijão, que não me deixa correr, e que todos na escola riem de mim, menos a tia Maria, que compreende o meu problema, e me defende dos colegas.
Um pinheiro de Natal! Mais um pinheiro que seria cortado e depois do Natal jogado no lixo, pensava Afonsinho...
Ele ficava tão lindo! Suas lâmpadas faiscavam e coloriam a sala. Seu perfume exalava por toda a casa, e eu sentia que o Natal tinha cheiro de pinheiro.
Paulo já havia chegado ao local e gritava:- Anda logo, venha escolher o pinheiro para ser a árvore deste Natal.
- Vou deixar o facão aqui debaixo deste pinheiro, e você corta um deles para a mamãe, gritava Paulo, que já corria morro abaixo.
Antes de eu chegar ao local, Paulo já tinha corrido até um campinho de futebol que ficava nas imediações, e já jogava com os meninos uma pelada.
Olhei os meninos jogarem, e senti vontade de ter as pernas fortes como as do Paulo, para poder jogar futebol também.
Sentei-me à sombra de um pinheiro, e fiquei a olhar as outras árvores para poder escolher uma delas.
Cortar uma arvorezinha pequena e linda, que missão a minha... Elas pareciam tão felizes ali naquele lugar, sentiam o sol aquecer-lhes as folhas, o vento que vinha de longe, refrescava-lhes as folhas, e contava-lhe os segredos de lugares onde não podiam estar...
Olhou vários pinheiros, viu alguns de porte muito grandes, outros muito pequenos, e se encantou com um deles.
Foi até o local, e preparou o facão para dar o primeiro golpe, mas antes de fazê-lo ouviu uma voz que lhe falou:
- Por que você vai me cortar? Deixe-me ficar no meio dos meus irmãos, sentindo e vivendo com a natureza cada dia em meu habitat. Aqui sou feliz!
- Não sou um pinheiro igual aos meus irmãos, sou aquele pinheiro que esteve lá pertinho de Jesus quando ele nasceu, enfeitei a gruta de Belém.
- Hoje, estou em missão, vim hoje até aqui para falar-lhe...
- Como pode um pinheiro falar? Acho que estou a ouvir coisas...
- Sim eu estou falando com você Afonsinho, estou aqui numa missão, que depois do nascimento de Jesus eu fui incumbido por ele. Escolho alguém de alma pura e bondosa, que sai à procura de um pinheiro para cortar, e com ele armar sua árvore de Natal.
- Você foi a pessoa escolhida por Deus para ouvir a minha estória.
- Eu estava em Belém, nasci no caminho onde todos os pastores passavam para chegarem até a gruta onde nasceu o Salvador, e ouvi a conversa deles, quando se dirigiam até lá para adorar o Salvador.
- Eu também queria ir, mas minha perna..., ou meu tronco, estava plantado, sem poder me mover. Entretanto meu coração me pedia para me aproximar da gruta. Eu queria levar algo, um presente, de minha natureza de árvore ao pobrezinho, que nascia numa manjedoura.
- Só o que eu podia oferecer, era o perfume de minhas folhas, a essência que eu recebera de Deus, e que poderia perfumar o local.
- Minhas folhas se conservavam verdes, apesar do frio, e eu era quase uma exceção naquele ambiente onde o branco da neve cobria os morros, campos e os telhados das casas. Tudo era neve, e até minhas folhas estavam em parte cobertas de neve.
- Tanto que eu queria ter folhas maciinhas, para que a mãe do Salvador pudesse forrar a manjedoura com elas, mas elas eram pontiagudas, e iriam ferir a pele delicada daquela criança recém nascida.
- O frio era intenso, não havia flores naquela época, mas o meu perfume se espalhava por toda a parte, mas meus olhos não viam o Salvador, contava o pinheiro ao Afonsinho.
- De meu tronco escorriam gotas de resina, que desciam como lágrimas de tristeza, e elas perfumavam ainda mais o ar frio, que era levado pelo vento até a gruta onde nascera o menino, que eu ouvira chamar-se Jesus.
- Você pode andar Afonsinho, apesar de uma de suas perninhas ser mais fininha que a outra, pode levar seu corpinho, mesmo com dificuldade para todo lugar, e pode pensar com mais profundidade sobre as coisas...
Nisto chegou um tatuzinho que tinha seu buraco ao lado do pinheiro, e entrou na conversa.
- Meus amigos, escutei a conversa e resolvi participar dela. Deixei a minha toca, mas antes tomei cuidado, e verifiquei que você Afonsinho é um bom menino, e não vai usar seu facão contra mim. Sou um tatu bola, e sou revestido de placas grossas, que me protegem contra meu predadores. É minha carapaça de proteção.
- Ao nascer não tenho a tal carapaça, sou recoberto com uma pele delicada, igual ao do Menino, sobre o qual conversam, mas depois ela vai endurecendo, e se torna dura e me serve de proteção.
- Olhe Afonsinho, como o tatuzinho, Jesus nasceu com a pele delicada, depois não teve armadura que o protegesse dos inimigos, e nem queria tal proteção, porque sua missão era salvar a humanidade. Ele, como filho de Deus, que nasceu numa gruta, tão pobrezinho, poderia ter escolhido um castelo, e ser filho de reis...
- Como um tatuzinho, uso de uma proteção, me enrolo todo e fico como uma bola, e assim o meu inimigo não consegue me pegar...
- Mas, você pinheiro, fica sem proteção, esperando na época do Natal ser cortado e enfeitado, ficando nas salas todo iluminado, admirado por todos, disse o tatuzinho
- Mas como você conseguiu chegar até à gruta de Belém, meu amigo pinheiro, perguntou Afonsinho? Estou ansioso para saber.
- Um anjinho que por ali passava, que só tinha uma asa, andando sem poder voar como os seus irmãos, já cansado, sentou-se debaixo de mim, e encostou-se em meu tronco, disse o pinheiro.
Sentiu a minha tristeza, quando uma gota de resina perfumada caiu em sua cabecinha.
- Por que choras meu irmão pinheiro? Estás tão verde, que nem parece sentir a friagem da noite. Sou um anjinho aleijado, nasci sem uma asa, coisa que ainda não entendo... Deus podia ter consertado, mas não o fez, por um motivo que ainda estou a refletir... O anjinho emocionado relatava ao pinheiro a sua deficiência, sem entender o por quê...
- Meus irmãos já estão a cantar ao Menino Jesus, mas não podendo voar, eu vou andando devagar, orando, refletindo sobre a grandeza do acontecimento, e oferecendo a minha dificuldade como uma oração ao Deus Menino.
- Minha deficiência me dá um tempo maior para observar as coisas ao meu redor, conversar com você, poder sentir sua aflição e tristeza, por um motivo que desconheço.
- Eu choro porque queria ver o Menino Jesus, a quem você vai caminhando para visitar, sem poder voar. Se voasse já estaria lá, disse o pinheiro.
O pinheiro contava ao Afonsinho sua história, e ele ouvia com muita atenção.
- Hoje é Natal, amigo pinheiro, vou presenteá-lo com alguns poderes que ainda tenho, e você irá ver o querido e esperado Menino Jesus, disse o anjinho.
- Ah! Meu amigo pinheiro e meu amiguinho tatuzinho, estou curioso para ouvir o resto de sua história, conte-me logo, disse Afonsinho ao pinheiro.
- O anjinho que estava encostado em meu tronco disse-me:
- Segure-se bem pinheiro, para que seus galhos não escapem, que vai ventar forte... Agarre-se no seu sonho, e suas seivas irão acelerar seu coração de árvore, de pinheiro que quer adorar Jesus...
Um vento forte veio de algum lugar, não sei de onde e me carregou até pertinho da gruta de Belém.
O anjinho aproveitou a carona, e agarrado num galho meu, chegou voando comigo, onde me finquei ao lado da gruta de Belém.
- Agora meu amigo pinheiro, olhe para o céu, disse o anjinho.
- Olhando para o céu, vi estrelas que vinham caindo, e quando chegavam às pontas de meus galhos se seguravam, e ficavam piscando intermitentes...
- Alguns passarinhos enrolaram em meus galhos cipós floridos, trazidos não sei de onde para enfeitarem o meu verde...
- Do lugar de onde eu estava podia ver a mãe sorrindo de alegria ao amamentar o filhinho Jesus, seu pai adorando a cena, e um burrinho e uma vaquinha aquecendo com seus bafos o Menino Jesus.
- Soube pelo anjinho, que a mãe se chamava Maria, e o pai José. Os pastores ajoelhados adoravam o pobrezinho de Belém, ao som do canto dos anjos que entoavam:
- “Paz na Terra aos homens de boa vontade”!
- Querido Afonsinho, vi o anjinho aleijado, sem uma das asinhas, ser abraçado por Maria, e o Menino Jesus sorria-lhe, agradecendo todo o esforço que fez para chegar até a gruta de Belém...
- E ouvi Maria falando:- “Que perfume delicioso, você não está sentindo querido anjinho”? Sinto que é perfume de pinheiro.
Afonsinho emocionado, abraçava o tronco do pinheiro, e passava suas mãos sobre a couraça do amigo tatuzinho, com muita emoção dizendo-lhes:
- Não vou cortar você pinheiro, para enfeitar o nosso Natal, vou contar à minha mãe tudo o que ouvi, e iremos arranjar um pinheiro artificial, bem como perfume artificial de pinheiro para espalhar pela sala no Natal.
- Meu aleijão será um motivo para refletir sobre a minha vida e a minha missão. Não ficarei mais triste, e nem reclamarei mais de minha deficiência, aprendi com o anjinho sem asa...
- Nem criarei uma couraça como você, amiguinho tatu, para me defender dos predadores, usarei outros meios, como: o amor, a paciência, a oração que farei neste Natal ao Menino Jesus, falando-lhe e agradecendo-lhe tudo o que sou, e recebi de Deus, para viver a minha missão...
- Cadê o pinheiro de Natal? Perguntou Paulo, que chegava correndo do campinho de futebol.
- Ele está no meu coração, o nosso pinheiro está vivo dentro de mim, e ficará aqui no pinheiral enfeitando a natureza, que comemora junto com os homens o Natal de Jesus!
- Mamãe compreenderá porque não cortei um pinheiro para ser nossa árvore de Natal, quando ouvir a história que vou lhe contar...
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