segunda-feira, 31 de março de 2014
sábado, 29 de março de 2014
Algazarra
Uma vez por mês, uma palavra, um texto, um desenho.
#3: ALGAZARRA
Cá está uma palavra com barulho dentro, uma palavra-búzio: se a encostarmos bem à orelha dá para ouvir (no ouvido direito) crianças a trotar pela sala numa cacofonia de guinchos e gritinhos, ou (no ouvido esquerdo) o marulhar de vozes numa plateia ansiosa, minutos antes do início de um concerto.
E é também uma palavra-megafone (tal como esta: ribombar), que parece ampliar o som, elevá-lo acima do movimento, ao contrário de outras suas congéneres – como alvoroço ou rebuliço, por exemplo – em que acontece precisamente o contrário: piam fininho. Que é como diz: o som da palavra não faz jus ao estardalhaço que representa.
Um misto de confusão e de alegria, uma espécie de vida em registo hiperbólico – isto é a algazarra nos seus dias bons. Mas também há o lado negro da algazarra. A sala de espera do centro de saúde, da Segurança Social ou de qualquer outro centro de chinfrim municipal. Ao fim de horas e horas a ver as senhas avançar a conta-gotas, uns resmungam entre dentes, outros queixam-se alto e bom som. E não podia faltar o clássico pingue-pongue de insultos entre um funcionário e alguém a quem disparam os ânimos e, a reboque, lá dispara também o volume da conversa.
As crianças, já sem posição nem distracção que as valha, impacientam-se, exasperam e desesperam. E já se sabe que o choro se pega como os bocejos: basta um miúdo abrir a goela para os outros irem todos atrás, num dominó de berros, patadas, birras de sono e lágrimas de crocodilo.
Esta mesma comitiva, numa festa de anos ou no recreio, não faria o medidor de decibéis registar alterações de maior, o que muda é mesmo só o cenário. Aí são guinchos estridentes e gargalhadas, gritinhos pululantes de excitação e pequenos selvagens com pilhas recarregáveis num berreiro pegado.
É preciso nervos de aço para o suportar e, acima de tudo, é preciso uma palavra com isolamento sonoro, como se fosse forrada com caixas de ovos, capaz de conter lá dentro todo este cagaçal de meia-noite: a algazarra.
Texto de Catarina Sacramento
Ilustração de Rita Cortez Pinto
(Publicado a 13 Março 2014)
Cá está uma palavra com barulho dentro, uma palavra-búzio: se a encostarmos bem à orelha dá para ouvir (no ouvido direito) crianças a trotar pela sala numa cacofonia de guinchos e gritinhos, ou (no ouvido esquerdo) o marulhar de vozes numa plateia ansiosa, minutos antes do início de um concerto.
E é também uma palavra-megafone (tal como esta: ribombar), que parece ampliar o som, elevá-lo acima do movimento, ao contrário de outras suas congéneres – como alvoroço ou rebuliço, por exemplo – em que acontece precisamente o contrário: piam fininho. Que é como diz: o som da palavra não faz jus ao estardalhaço que representa.
Um misto de confusão e de alegria, uma espécie de vida em registo hiperbólico – isto é a algazarra nos seus dias bons. Mas também há o lado negro da algazarra. A sala de espera do centro de saúde, da Segurança Social ou de qualquer outro centro de chinfrim municipal. Ao fim de horas e horas a ver as senhas avançar a conta-gotas, uns resmungam entre dentes, outros queixam-se alto e bom som. E não podia faltar o clássico pingue-pongue de insultos entre um funcionário e alguém a quem disparam os ânimos e, a reboque, lá dispara também o volume da conversa.
As crianças, já sem posição nem distracção que as valha, impacientam-se, exasperam e desesperam. E já se sabe que o choro se pega como os bocejos: basta um miúdo abrir a goela para os outros irem todos atrás, num dominó de berros, patadas, birras de sono e lágrimas de crocodilo.
Esta mesma comitiva, numa festa de anos ou no recreio, não faria o medidor de decibéis registar alterações de maior, o que muda é mesmo só o cenário. Aí são guinchos estridentes e gargalhadas, gritinhos pululantes de excitação e pequenos selvagens com pilhas recarregáveis num berreiro pegado.
É preciso nervos de aço para o suportar e, acima de tudo, é preciso uma palavra com isolamento sonoro, como se fosse forrada com caixas de ovos, capaz de conter lá dentro todo este cagaçal de meia-noite: a algazarra.
Texto de Catarina Sacramento
Ilustração de Rita Cortez Pinto
(Publicado a 13 Março 2014)
Convite
Convite
o arroz é branquinho quando está sozinho
mas sua cor e sabor mudam com um bom caldinho
a palavra é como o arroz: quando está só, diz uma coisa
mas pode dizer muito mais, depende do que vem depois
com uma porção de imagens e uma pitada de magia
a palavra também muda e fica com gosto de poesia
...
Retirada do Blogue de Silvana Tavano
Metáfora
- Eu estou a brincar às escondidas. Por acaso não tem um livro grande onde eu me possa esconder?
- Não temos um livro assim tão grande, mas podes esconder-te atrás de uma estante.
- (franzindo o sobrolho) Não percebo… a minha mãe diz que gosta de livros porque se pode perder dentro deles.
Sapatos
Sapatos
Sapatos aos quadrados
sapatos aos bocados
sapatos apertados
sapatos tresloucados.
Sapatos encharcados
sapatos rasgados
sapatos cortados
sapatos esmigalhados.
Sapatos estragados
sapatos arranjados
sapatos usados
sapatos amuados.
Sapatos molhados
sapatos riscados
sapatos cortados
sapatos despejados.
Sapatos e mais sapatos
por todo o lado.
Debaixo da cama,
dentro do armário,
em cima do telhado.
Sapatos, sapatinhos, sapatões,
para todas as ocasiões.
Poema de Ana Ramalhete
Ilustração de Madalena Matoso
Matilde Brinca com as letras - Mary Katherine Martins e Silva
Matilde Brinca com as letras!!!
Uma história escrita e ilustrada por Mary Katherine Martins e Silva
Editado pelo Campo das Letras em 2004
"Este livro mostra-nos magistralmente aquilo que o acto de escrever representa. Ou seja, aborda-se o significado da escrita, brinca-se com as letras da sopa, lêem-se fotografias, assinam-se os desenhos que se fazem na escola ou escrevem-se recados. Por outras palavras, este livro explica-nos que isso de aprender a ler e a escrever, que a escola primária valoriza primordialmente, é algo que tem de ser vivido pelas crianças. Só assim elas podem criar um interesse pela escrita."
in Os Meus Livros, Março 2005
Começa assim:
"A Matilde está a comer sopa quentinha.
- Que sopa tão boa ! - diz a Matilde. - Olha, mamã,
é sopa de letras!!!.
A Matilde olha para a sua sopa com muita atenção.
Lá dentro estão muitas massinhas boas com formas de letras.
(...)
A mamã explica à Matilde que existem vinte e seis
letras que formam uma família chamada Abecedário.
Quando as escrevemos junto umas das outras,
fazemos palavras. Quando essas palavras são lidas,
as outras pessoas conseguem perceber o que
queremos dizer.
(...)
Quando já sabemos ler as letras, sabemos que cada
coisa tem uma palavra escrita só sua.
As pessoas inventaram a escrita para ser mais fácil
comunicarem umas com as outras. Era muito
complicado ter que arranjar desenhos ou fotografias
de tudo para conseguirmos escrever qualquer coisa
que se percebesse.
(...)
As palavras escritas estão dentro dos livros e juntas
contam-nos muitas histórias. Se não houvesse letras
e palavras, se não soubéssemos ler, aonde é que
íamos buscar as histórias bonitas que te contamos
quando vais dormir?
(...)
As pessoas crescidas lá do Jardim de Infância usam
as letras para escrever recados aos colegas e aos
pais dos meninos." (...)
Este livro inclui guia de pais!
"Algumas ideias para despertar o gosto pela leitura (e escrita) no seu filho".
Mensagem do Dia Internacional do Livro Infantil - Siobhán Parkinson
CARTA ÀS CRIANÇAS DE TODO O MUNDO
Os leitores perguntam muitas vezes aos escritores como é que escrevem as suas histórias - de onde vêm as ideias? Da minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que temos uma?
Bem, diz o escritor, fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e vestígios de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias e pensamentos e rostos e monstros e formas e palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e ritmos e pequenos cliques e flashes e sabores e explosões de energia e enigmas e brisas e palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a cantar e a parecer um caleidoscópio e a flutuar e a pousar e a pensar e a arranhar a cabeça.
Claro que todos temos uma imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de sonhar. Contudo, nem todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A imaginação dos cozinheiros tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e formas. Mas a imaginação dos escritores está cheia de palavras.
E nos leitores e ouvintes das histórias, as imaginações fazem-se com palavras também. A imaginação do escritor trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos numa história, e a história é apenas feita de palavras, batalhões de rabiscos que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os rabiscos ganham vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também brincam com a imaginação do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar as palavras de modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha acontecido na cabeça do escritor.
É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Há apenas um escritor para cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de leitors, na própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o escritor, a história nunca terá nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o mundo, a história não viveria todas as vidas que pode viver.
Cada leitor de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da mesma história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história do escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e público, individual e coletiva, íntimo e internacional. Isto deve ser aquilo que o ser humano faz melhor.
Continua a ler!
Siobhán Parkinson
Autora, editora, tradutora e distinguida com o Children´s Laureate of Ireland
Tradução: Maria Carlos Loureiro
Dia Internacional do Livro Infantil
O "Dia Internacional do Livro Infantil "celebra-se no dia 2 de abril, data do nascimento do escritor dinamarquês, Hans Christian Andersen. Neste data chama-se a atenção para a importância da leitura e para o papel fundamental dos livros para a infância.
Este ano a mensagem doIBBY internacional é da responsabilidade da escritora irlandesa Siobhán Parkinson.
Ler... AQUI
Ler... AQUI
quarta-feira, 26 de março de 2014
O meu avô - Catarina Sobral
A ilustradora Catarina Sobral foi premiada hoje na feira do livro infantil em Bolonha com o prémio internacional de ilustração.
terça-feira, 25 de março de 2014
domingo, 23 de março de 2014
sábado, 22 de março de 2014
Dia Mundial da Poesia
Não adormeças
Às vezes,
o tigre
fica em silêncio.
Fecha os olhos,
ronca para dentro.
Dou-lhe um abanão.
Quero outro conto!
O tigre suspira.
Não tens sono, não?
Beatriz Osés e Miguel Ángel Díez, in O Segredo do Papa-Formigas. ed.Kalandraka.
Às vezes,
o tigre
fica em silêncio.
Fecha os olhos,
ronca para dentro.
Dou-lhe um abanão.
Quero outro conto!
O tigre suspira.
Não tens sono, não?
Beatriz Osés e Miguel Ángel Díez, in O Segredo do Papa-Formigas. ed.Kalandraka.
sexta-feira, 21 de março de 2014
quarta-feira, 19 de março de 2014
terça-feira, 18 de março de 2014
segunda-feira, 17 de março de 2014
sexta-feira, 14 de março de 2014
quinta-feira, 13 de março de 2014
quarta-feira, 12 de março de 2014
segunda-feira, 10 de março de 2014
sexta-feira, 7 de março de 2014
Leituras "Dia do Pai"
"Pai Felicidade
é quando o Pai leva a Mãe
ao seu restaurante preferido
e lhe oferece um ramo de flores.
A Mãe sorri. Que felicidade!
Pai Risota,
É quando o Pai faz macaquices,
Quando imita um elefante ou um saguim.
Rebolamos a rir para debaixo da mesa.
Cada brincadeira é uma risota pegada!”
é quando o Pai leva a Mãe
ao seu restaurante preferido
e lhe oferece um ramo de flores.
A Mãe sorri. Que felicidade!
Pai Risota,
É quando o Pai faz macaquices,
Quando imita um elefante ou um saguim.
Rebolamos a rir para debaixo da mesa.
Cada brincadeira é uma risota pegada!”