"Domingo vamos à Luz"
Pato Lógico Edições
Texto: José Jorge Letria
Ilustrações: André Letria
“Este é um livro de amor ao Benfica, um amor partilhado por um pai e por um filho, ontem, hoje e sempre.”
Sorte do Benfica.
O clube português recebeu, de pai e filho, um dos mais bonitos livros infantis sobre futebol. Méritos do escritor José Jorge Letria, que declama as glórias benfiquistas, e do talentoso André Letria, que ilustra com paixão as tardes vividas no Estádio da Luz, em Lisboa. Uma dupla em sintonia fina, na letra e no traço.
“Domingo vamos à Luz”, dos Letrias, e publicado pela editora portuguesa Pato Lógico, pode ser lido como uma poesia dedicada ao clube do coração. Pode, mas não deve. Não deve porque deixaria de fazer justiça à sensibilidade deles em expor o futebol acima da paixão clubística. O papel do futebol, aqui, é o de conectar entre pai e filho e construir identidades entre vitórias, derrotas, ídolos, títulos e respeito ao adversário. O amor ao clube se confunde com o amor que existe entre os dois. A cada domingo, pai e filho se tornam um só. As emoções que eles compartilham brotam de rituais e ideais, presentes a cada virada de página do livro. O vestir-se de vermelho, o completar o álbum de figurinhas, o comprar o sorvete e cachorro-quente e a idolatria ao craque Eusébio, o maior jogador da história do clube.
A admiração do garoto por Eusébio verte em admiração pelo pai. Ora, são todos um só: pai, filho, Eusébio, Benfica. Mas essa visão de futebol está um pouco esquecida. Os exageros do futebol-mercado-consumo vêm, há tempos, corroendo esse romantismo. Por isso, há um bocado de inevitável nostalgia na escrita de José Jorge, especialmente quando fala de um “tempo distante e limpo” em que os jogadores eram mais que verdadeiros ídolos – eram fonte de inspiração.
“Domingo vamos à Luz, / como eu já fui com meu pai, / num tempo distante e limpo / em que os craques / tinha nos olhos / o brilho mágico / de todos os títulos por ganhar / e a juventude inteira, / garrida e altaneira, / para os alcançar.”
“Domingo vamos à Luz, / como eu já fui com meu pai, / num tempo distante e limpo / em que os craques / tinha nos olhos / o brilho mágico / de todos os títulos por ganhar / e a juventude inteira, / garrida e altaneira, / para os alcançar.”
O craque Eusébio, que morreu no último dia 5 de janeiro, aos 71
anos, é o grande exemplo de força e superação. A melhor fonte de
inspiração para os Letrias benfiquistas.
“Domingo vamos à Luz, / onde eu vi o Eusébio a fintar, / a fazer
golos e chorar, / menino da África distante, / veloz, certeiro e
possante, / correndo de topo a topo / como a gazela elegante / que dorme
ficando à espera / que a manhã se levante.”
Além de fonte de inspiração, na figura do craque, o futebol
transborda do campo. Em vários momentos o livro não é sobre o Benfica,
não é sobre Eusébio, nem sobre o futebol. É sobre pertencer ao grupo, à
torcida, e sobre compartilhar alegrias e tristezas com desconhecidos.
André Letria capricha nas feições de cada torcedor, montando mosaicos de
rostos divertidos, tornando-os próximos como velhos amigos.
É nesse ponto que o livro crava sua capacidade de surpreender: no
traço que dá personalidade a cada torcedor. O futebol, afinal, não é
sobre uma bola. O futebol é sobre pessoas. Sobre pais e filhos, como
José Jorge e André, e esse amor que eles compartilham e puseram no
papel.
Sorte do Benfica de tê-los como fans.
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