sábado, 30 de novembro de 2013

O melhor Natal do António

A mãe chegou a casa atordoada, a queixar-se dos pés e a barafustar contra as lojas cheias de pessoas. O pai do António é que ouviu:

— Chego a casa e é este cheiro a fritos. Não estás farto de saber que me enjoa? Para mais grávida, e no oitavo mês.
— Desculpa — respondeu ele, atrapalhado — era para ser uma surpresa, gostas tanto de sonhos…
— Olha, desculpa-me tu, mas sinto-me tão mal…
Deram um beijo e ela foi deitar-se um pouco, agora a sentir-se mais culpada do que cansada, e foi ele, desconsolado, arrumar a cozinha.
O António levantou-se do sofá, foi encostar a porta da sala e ligar a televisão. Desligou-a logo de seguida: todos os natais o mesmo filme!
Felizmente, chegaram os avós e foram os três jogar à sueca aberta. Entretanto, os pais apareceram, com ar de quem já fizera as pazes e trouxeram figos, amêndoas, nozes, pistáchios e pinhões.
A avó afastou os cabelos dos olhos da mãe do António, como fazia quando ela ainda era a sua filhota esgrouviada, e perguntou-lhe:
— Lembras-te, Leonor, de quando ia buscar-te ao colégio e passávamos pela loja dos pássaros e eu te comprava um colar de pinhões? Só os comias em casa, porque gostavas de ir na rua com o colar, vaidosa…
— Eram ao preço da chuva, não eram? Até custa a crer.
Na televisão estava uma locutora a dizer que já ninguém enfeitava a árvore com fitas, que agora se usavam laços e que havia cada vez mais decorações de Natal: era o fecho das notícias. O António olhou para a árvore lá de casa, igual todos os anos, com bolas de várias cores e fitas prateadas e douradas, largas e muito fininhas, e pensou se seria uma árvore feia. Depois olhou para a locutora e percebeu que feia era ela.
Quando a tia Cristina chegar — pensou o António — com o tio Rui e as gémeas, vai ter tudo de andar encostado às estantes, a encolher a barriga. Na casa da avó sempre há mais espaço; aqui, a árvore de Natal quase ocupa a sala.
Faltava ainda o tio Gastão, mas esse não viria. É o único irmão do pai do António. Sente-se pouco à vontade entre muitas pessoas, de modo que não gosta especialmente do Natal, embora lembre com saudade os natais de quando era pequeno e os pais ainda eram vivos.
Naquele dia, o tio tinha ido buscar o António para o levar a almoçar fora. Preferiram ir a pé, a sentir o frio seco dos dias de Natal que chama as lágrimas aos olhos, põe os narizes vermelhos e faz andar as pessoas mais depressa nas ruas.
Passaram por três pais natais a distribuir publicidade de máquinas de lavar e coisas assim. Lembrou-se o António:
— Se os miúdos mais pequenos vêem estes pais natais todos, ficam a perceber que não há aquele outro.
E o tio Gastão, que há muitos anos deixou de acreditar no Pai Natal, pensou que realmente o que lhe valia era ter aquele sobrinho.
No restaurante chinês, o António pediu duas tigelas de arroz chau-chau e três crepes, que comeu com garfo e faca, orgulhoso do tio, que comia com pauzinhos como se fosse a coisa mais fácil do mundo.
Antes de se despedirem, já em casa, o tio Gastão tirou do bolso um presente para o António: uma enorme caneta preta, antiga e de tinta permanente, que o António se habituara a admirar no escritório do tio.
Para o Zé Manel, o Natal significa ter mais formas de bolos para lamber, uma árvore para tentar deitar ao chão, com muitas bolas e fitas para arrancar, e o colo das gémeas. É difícil compreender a simpatia que ele tem pelas primas do António, mesmo porque elas são muito magricelas, e os gatos, muito naturalmente, preferem colos fofos. Como os bebés, aliás. Nem elas tão-pouco lhe deram alguma vez de comer. E, no entanto, desta vez, como sempre, assim que a Cláudia e a Vera chegaram, o bicho correu para elas e não as deixou mais. Elas sentaram-se muito juntinhas no sofá e o Zé refastelou-se, metade nas pernas de uma, metade nas da outra. Como se as duas tivessem um só colo, muito comprido — uma boa cama, embora dura.
Qualquer par de gémeos é sempre um pouco cómico. Estas, então, imaginem: sempre juntas, sempre de auscultadores e a trocá-los — uma quer a toda a hora que a outra oiça uma música qualquer. O António farta-se de rir, mas elas não se sentem gozadas. Nunca amuam, riem-se simplesmente também. São muito boas pessoas.
A mãe do António foi mostrar à irmã as prendas de Natal que já tinha recebido de amigos: tudo roupinhas para o bebé. A tia Cristina até pensou: coitada da Leonor, também há-de gostar de receber coisas para ela! Ainda bem que lhe comprei um perfume.
De facto, não são só as crianças que precisam de mimo e, se a mãe do António tivesse lido os pensamentos da irmã, não teria depois dado tanta importância ao que ela disse.
— Ainda todas amarelas, vá que não vá. Mas as outras… Jesus, que foleiras! — disse a tia Cristina.
— Que mal é que têm?! — perguntou a mãe do António, a rir-se do entusiasmo com que a irmã protestava sempre, contra tudo e todos.
— Mas tu não vês que as cores não dizem?
— Olha, eu gosto… — arriscou a mãe do António.
— Também, tu gostas de tudo.
Foi só uma pequena falta de jeito, mas o certo é que a mãe do António ficou instantaneamente com um nó na garganta. Pôs-se a pensar no seu dia-a-dia, no que fazia e no que não fazia, no pequeno círculo de pessoas com quem se dava. Seria pouco?
A tia Cristina não tinha querido magoar ninguém, até porque ela não achava realmente que a vida da irmã fosse pobre. E quando a mãe do António se escapou discretamente para a casa de banho, só houve uma pessoa que percebeu que alguma coisa não estava bem: foi o tio Rui. A sensibilidade dele deve ser das mais inteligentes de Portugal — até faz impressão. E como a cunhada é das maiores amigas que ele tem, foi-lhe fácil passar o serão a conversar com ela e a pedir-lhe opiniões e conselhos. Aos poucos, a mãe do António foi voltando a gostar de si própria.
À meia-noite abriram-se as prendas. O António ficou um bocado decepcionado, porque queria um par de chuteiras e teve um par de sapatos. O que vale é que, com este par de inutilidades, os pais deram-lhe cinco volumes da colecção Langelot — agente secreto. Os avós desta vez não lhe deram peúgas, mas deram-lhe um pijama! Os tios é que lhe ofereceram uns binóculos fantásticos e as gémeas gravaram-lhe, da rádio, uma série de músicas da moda que não suportam, mas que sabem que ele adora. Foram impecáveis.
Ainda não eram oito da manhã quando o pai acordou bruscamente o António: a mãe tinha começado com dores, tinha de a levar à maternidade. Não sabia se ela ia ter o bebé já ou se voltava para casa. Talvez por não se terem completado ainda os normais nove meses de gravidez, o pai do António estava incrivelmente nervoso. Pegava em coisas e largava-as, esquecia-se do que estava à procura, mexia-se demasiado e nunca mais saía de casa. Por fim encostou-se a um móvel e pousou a testa na mão, com um ar desesperado. A mãe do António também já estava prestes a perder a calma, menos pelas dores do que pelo marido. E suplicava:
— Por favor, agora é a minha vez de estar nervosa e a tua de estares forte. Vamos embora!
O António estava apavorado, mas percebeu que tinha de arranjar forças para se conter. E então, dando umas palmadinhas no braço do pai, começou a falar-lhe com voz firme:
— Pai, quando fui eu, a mãe também teve dores, não foi? E depois passaram. A mãe não ficou com nenhuma raiva de mim, esqueceu tudo e ficámos os dois bem de saúde. Agora há-de ser a mesma coisa. E a mãe até faz ginástica para aprender a respirar bem e a ajudar o bebé a sair… não vai custar muito, pois não, mãe?
— Vai ser canja — respondeu a mãe.
Só quando se viu sozinho em casa é que o António pôde sentir medo à vontade. Sabia que não era canja. Mesmo tendo aprendido que as mulheres alargam durante a gravidez para o bebé poder passar, aquilo parecia-lhe uma grande violência.
A tia chegou para lhe fazer companhia e disse-lhe que o mais provável era terem feito mal as contas e o bebé estar já prontinho. Explicou-lhe também que o segundo filho custa sempre menos, principalmente quando a mãe é novinha, e que na família dele todas as mulheres eram boas parideiras, pelo que dali a uma hora já teriam com certeza notícias. E começaram a pensar em nomes.
— E se fosse Sebastião? — sugeriu o António.
— Não, que esse come tudo, tudo, tudo.
— E João?
— Não, que lá morreu o João Ratão, cozido e assado no caldeirão.
— E Rodrigo?
— Rodrigo é a paixão da Júlia. Não conheces? Eu conto.
E contou: o tio Rui e a irmã, a Júlia, cresceram numa quintarola, no Alentejo, onde havia um porquinho, muito gordinho e asseado, e mais meia dúzia de bichos: a porca, o porco, umas galinhas e um burro.
A Júlia era levada da breca. Gostava de correr e assustar as galinhas, de cavalgar e de enfeitar o burro com colares, chapéus e écharpes da mãe. E adorava o porquinho, a quem dera o nome de Ro- drigo. Aqui é que começaram os problemas com os pais. Ora ia buscá-lo às escondidas, à noite, e o aconchegava entre as melhores camisolas ou as melhores mantas, numa gaveta aberta da cómoda do quarto; ora lhe punha uma babete e lhe dava às colheres dos melhores doces de ovos que havia na cozinha; ora tentava levá-lo às cavalitas, muito curvada e vermelha com aquele peso, quase a deixá-lo cair. Os pais tentaram tudo para a «curar» daquele amor. Primeiro tentaram convencê-la de que tudo aquilo era mal empregue num porco. Resposta da Júlia: «Devemos tratar bem os nossos amigos e ele é o meu maior amigo». Depois argumentaram que era bom ela fazer novos amigos, desta vez pessoas. Resposta da Júlia: «Mas quando fazemos novos amigos devemos esquecer os outros?». A seguir explicaram-lhe que as pessoas só brincam com animais de estimação, como cães, gatos, etc… e que os porcos eram animais úteis, bons no prato. Aí a Júlia desatou a berrar que o amigo dela não era só um porco, era o Rodrigo, que ela estimava muito; e que se alguém voltasse a falar em cozinhar o Rodrigo, ela deixava de comer o que quer que fosse. O pior é que os pais tinham a certeza absoluta de que ela faria tudo o que estava a dizer.
A Júlia cresceu e o Rodrigo também. O tio Rui casou e mudou-se para Lisboa, onde conhecera a tia, e a Júlia só não casava porque não queria. Finalmente, houve um namorado que concordou que os ares de Lisboa não eram bons para o Rodrigo e que era melhor ficarem todos na terra deles. Casaram, lá estão, e não hão-de deixar nunca que alguém coma carne de Rodrigo à alentejana. Há-de morrer de velho, este porco.
Acabada a história, tocou o telefone. Foi a tia Cristina que atendeu e, pela cara dela, o António percebeu logo que estava tudo bem. O parto tinha sido fácil, a mãe estava bem e já podia receber visitas, o bebé era pequenino e tinha de ficar ali uns dias sob vigilância, mas também parecia estar muito bem. E era uma menina! O António percebeu então que tinha sido um disparate preferir um irmão, pensar em nomes de rapazes e planear jogos de bola: agora estava tão contente com a irmã! Como era dia de Natal, o António decidiu que tinha de dar um presente à irmã e pediu por isso à tia Cristina que o levasse a uma loja de brinquedos, de caminho para a maternidade. Ela lembrou-lhe que todas as lojas estavam fechadas, mas que seria muito engraçado se o António desse à irmã o urso de que ele mais gostava quando era pequeno. Ele achou uma boa ideia e foram os dois fazer um grande embrulho, com uma fita cor-de-rosa, porque era para uma menina.
Mónica Leal da Silva
O melhor Natal do António
Lisboa, Edições Cotovia, 1993

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CONFIA - Conferência Internacional em Ilustração e Animação

Anabela Dias

Está a decorrer um conjunto de exposições nas áreas da ilustração e animação no edifício AXA, 1ª Avenida no Porto.

Versos para os pais lerem aos filhos em noites de luar - José Jorge Letria


Com versos da cor da lua
és tão grande e pequenino
como esta página branca
em que leio o teu destino.
Dorme agora sossegado
como as nuvens à noitinha
que eu fico aqui a teu lado
com a tua mão na minha.














Com versos da cor da luz
é que eu embalo o teu sono
nessa cadência suave
das cantigas no Outono.
E vêm bruxas e fadas,
duendes e feiticeiras
com mantos feitos de bruma
para saltar as fogueiras.



Com versos feitos de sonho
é que eu te faço sonhar
que és golfinho e rouxinol
ou peixe de prata a brilhar.
E cada linha que tu lês
é perfeita como o traço
de um pintor que te envolve
com as cores de um abraço.
Cada palavra que leres
há-de alargar o teu mundo
acrescentando sentido
ao que sabes lá no fundo,
e aquilo que tu nomeias
passa a ter nome e lugar,
tesouro de sons soletrado
quando te pões a falar.
Cada palavra que aprendes
tem o gosto da aventura
e a magia secreta
que há no acto da leitura.
Cada palavra que escreves
é um fruto já maduro
que cai da árvore dos sons
e tem sabor de futuro.
Cada palavra aprendida
sabe a estrelas e a ilhas
e vai pela mão de Alice
ao País das Maravilhas.
Cada palavra já lida
ao mapa há-de acrescentar
mais uma rota esquecida
que os livros hão-de lembrar.
Cada palavra já lida,
seja em Lisboa ou em Tóquio,
há-de deixar-se
guiar pelo nariz do Pinóquio,
e mesmo se for mentira
aprenderá com o seu guia
o que vale para quem lê
esse dom da fantasia.
Cada palavra que nasce
mesmo no centro da fala
é como um tesouro oculto
no recanto de uma sala,
e pode ser um unicórnio,
dragão ou mesmo arlequim,
transformando-se numa pomba
quando a história chegar ao fim.
E há meninos luminosos
que nos livros já semeiam
com o som das suas vozes
as viagens que nomeiam.
São navegantes, corsários,
São os bravos almirantes
Dos sonhos que nos mostram
o mundo como era dantes.
José Jorge Letria
Versos para os Pais lerem aos Filhos em Noites de Luar
Porto, AMBAR, 2003

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

domingo, 24 de novembro de 2013

Poesias de Tragédia e Versos de Comédia - Laura Mirpuri e Paulo Galindro

Poesias de Tragédia e Versos de Comédia

12 histórias em verso em sintonia com os 12 anos da autora, Laura Mirpuri. 12 histórias em que o humor salta de rima em rima, ora invertendo os papéis tradicionais, ora dando vida a personagens inusitadas. Por entre a comédia, insinua-se a tragédia das pequenas misérias humanas: a ganância, a gulodice e o consumismo, motivos inspiradores para as ilustrações de Paulo Galindro, que acentuam a boa disposição do texto com o encanto tão próprio do seu trabalho.

Exposição no Espaço Professor da Porto Editora

 Na rua da Restauração, no Porto, podem ver uma exposição de ilustrações de Anabela Dias. Algumas inéditas.




Quanto vale uma amizade?


A Editora Cercica lançou o primeiro título de uma nova coleção de livros inclusivos: a coleção chama-se "Todos a Ler" e a primeira obra tem o título "Quanto vale a amizade?".

 
Os livros são disponibilizados em quatro formatos, para poderem ser lidos por crianças com diferentes necessidades especiais.

sábado, 23 de novembro de 2013

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Era uma vez...



 Mais histórias de Natal... AQUI

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Campanhas de Natal

Livrarias Bertrand

De 14 de Novembro a 31 de Dezembro, as Livrarias Bertrand realizam uma forte campanha de Natal, com o objectivo assumido de colocar o livro como primeira referência nas compras deste fim de ano. Assim, vão oferecer 25% de desconto em 10000 livros em cartão Leitor Bertrand em todas as compras, incluindo novidades.

FNAC

A Campanha de Natal Fnac 2013, a decorrer de 14 Novembro a 24 Dezembro, com uma mecânica de  multicompra (multifornecedor) de Leve 4 livros e Pague 3, incluindo as novidades.
Esta promoção abrangerá, nas  lojas, todos os livros de literatura adulto e todas as temáticas de infantil, em língua portuguesa. Na loja online, abrangerá todo o catálogo disponível de cada editor participante. Nas lojas, poderá ainda ser considerada a inclusão de títulos pontuais, fora das temáticas trabalhadas.


Tóssan

A VELHA DA GATA E A GATA DA VELHA

Uma velha tinha um gato
e o gato tinha uma velha
mas o gato que a velha tinha
tinha a tinha que tinha a velha.

E não era gato, era gata.

A velha da gata
de velha que era,
sofria da telha ou da pinha
e a gata da velha, de tão velha,
já era velhinha.

A velha, de velha, já andava de gatas
e a gata já andava de velhas.
Quando a velha andava de gatas
parecia a gata da velha,
e como a velha dobrava a espinha
a gata queria comer a espinha da velha.

Tudo pela gata ter tinha
e a velha sofrer da pinha.

Quando a gata chorava, 
a velha miava.
Ficava sem se saber 
qual era a gata ou qual era a velha
que debaixo da cama vinha,
em cima da cama estava, 
debaixo da cama dormia,
e por cima ressonava.

A velha tinha fôlego de gata!
E junto à cabeceira
a gaita de foles estava.
Quando a velha gaiteia
tocava na velha gaita,
chorava a gata da velha 
por causa dos foles da gaita.

A velha que tinha gôta
caiu no goto da gata
morrendo a gata de gôta,
ficando a velha gótica 
sem gôta e sem gata.

Mas como ainda tinha tinha
e sobria da velha telha,
juntou-se a tinha na pinha
e morreu careca a velha

terça-feira, 19 de novembro de 2013

O Pássaro da Cabeça - Manuel António Pina




                                      "Sou o pássaro que canta
                                      dentro da tua cabeça,
                                      que canta na tua garganta,
                                      que canta onde lhe apeteça.

                                       sou o pássaro que voa
                                       dentro do teu coração
                                       e do de qualquer pessoa
                                       (mesmo as que julgas que não).

                                       sou o pássaro da imaginação
                                       que voa até na prisão
                                       e canta por tudo e por nada
                                       mesmo com a boca fechada.

                                       e esta é a canção sem razão
                                       que não serve para mais nada
                                       senão para ser cantada
                                       quando os amigos se vão

                                       e ficas de novo sozinho
                                       na solidão que começa
                                       apenas com o passarinho
                                       dentro da tua cabeça"


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

À Esquina da rima Buzina - António Torrado

ANÚNCIO -I

Quarenta poetas 
que dizem que são, 
quarenta poetas 
no cais da estação

Quarenta poetas 
são mais do que as uvas! 
Que dor, que tormenta, 
perderam as luvas.

Quarenta poetas 
de finas bengalas 
e mais finos versos 
perderam as malas.

Quarenta poetas 
quem lhes leva a palma? 
Quarenta poetas 
perderam a calma.

Quarenta poetas 
nervosos, com pressa… 
E vai um poeta 
perdeu a cabeça.

Perdeu a cabeça, 
perdeu, de repente, 
no cais da estação… 
O caso é urgente.

A quem encontrar 
avise para mim. 
Fui eu que a perdi. 
Há casos assim! 

António Torrado, “À Esquina da rima Buzina”

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Anjos de pijama - Matilde Rosa Araújo

AVENTURA PEQUENINA

É tão linda a palavra dói-dói!
Dóis… Dós…
Mas um dói-dói dói.
Dói!
Que pena o dói-dói doer
Até o menino chorar.
Mas que foi?
É um dói-dói pequenino
No joelho
Do menino,
Que pulou,
Caiu,
E se feriu.
Pulou, 
Caiu, 
Esfolou,
Mas já passou…

Matilde Rosa Araújo, “Anjos de pijama”

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Versos diversos para meninos travessos - Maria Rosa Colaço

DIA DE ANOS DO PEDRO

No ano em que eu nasci 
tanta coisa aconteceu!
Caiu chuva, houve sol 
e muito pão se comeu.

No ano em que eu nasci, 
já outros corriam mundo,,
já outros estavam em guerra,
já barcos iam ao fundo.

No ano em que eu nasci 
a vida, tal como hoje,
é uma luz, é um vento
que passa por nós e foge.

Nesse dia tão distante, 
descobri que é bom viver.
Hei-de fazer dos meus dias
Todos, dias de nascer!

No ano em que eu nasci 
não tinha medo de nada:
o colo da minha Mãe
era o ninho, era a estrada!

Mas no ano em que eu nasci 
o melhor que aconteceu
fui eu! Fui eu! Fui eu
Fui eu!