sábado, 31 de agosto de 2013
sexta-feira, 30 de agosto de 2013
quinta-feira, 29 de agosto de 2013
quarta-feira, 28 de agosto de 2013
terça-feira, 27 de agosto de 2013
Um avental cheio - António Torrado e Cristina Malaquias
Isto passou-se num tempo em que mouros e cristãos andavam à bulha pela mesma terra, por sinal a mesma que, mais tarde, se chamou de Portugal.
Uns de um lado, outros do outro, conquistavam vilas e aldeias, que logo a seguir tinham de abandonar, para mais depois reconquistarem, numa luta desenfreada e sem fronteiras certas. Alfanges e espadas cruzavam-se com raiva, corria sangue, perdiam-se muitas vidas.
Aconteceu que, uma vez, não sei onde, uma mulher sarracena estava para dar à luz. O marido, aflito, procurou entre as mulheres mouriscas quem a socorresse, mas nenhuma tinha experiência para tal. Falaram-lhe, no entanto, de uma parteira cristã, que vivia do outro lado da guerra.
O homem arriscou-se. A coberto da noite, evitou as sentinelas e conseguiu chegar a casa da parteira. Com muito bons modos, pediu-lhe que lhe acudisse à mulher e ao filho que estava para nascer.
- Prometo encher-te o avental de riquezas - disse ele, a convencê-la.
A parteira, ou por cobiça ou por condoimento, foi com o mouro, passando, no entanto, pelos mesmos riscos por que ele tinha passado.
Concluído o parto, sossegada a mãe com o bebé nos braços, o mouro mandou-a levantar o avental e despejou-lhe para a abada dele uma cesta cheia de carvão de lenha.
- Guarda-a até chegares a casa - avisou-a o pai do menino que ela ajudara a nascer.
A mulher sentiu-se lograda, mas temeu-se de protestar, receosa de que o mouro lhe levasse a mal. No seu íntimo, resmungava: ?Então este montinho de carvões, que me sujam o aventalinho de chita, é que valem a riqueza prometida? Da próxima não torno, ai não torno não, mouro velhaco".
Voltava para casa já de madrugada. Uns soldados cristãos, que estavam de atalaia, viram-na e mandaram-na parar, de lanças em riste:
- Se vens de terra inimiga, não vens por bem - disseram-lhe.
Ela benzeu-se diante deles e mostrou-lhes o seu leve carrego de carvões, desculpando-se:
- Sou uma pobre mulher que anda a colher gravetos de uma queimada, para conforto da casa e meu e de meu gato, que gosta de dormir ao borralho.
Deixaram-na ir. Quando chegou a casa e fechou a porta atrás dela, de coração ainda a bater de susto, ia para deitar os carvões para a lareira e viu que - olhai a surpresa! - tinha o avental cheio de barras de ouro. Até o pó de carvão se tinha transformado em ouro em pó. Afinal o mouro era um mágico e não lhe falhara a paga.
Parece que o único que não apreciou a transformação foi o gato que gostava de dormir ao calor do borralho.
segunda-feira, 26 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
sexta-feira, 23 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
quarta-feira, 21 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
D. Caio
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Era um alfaiate muito poltrão, que estava trabalhando à porta da rua; como ele tinha medo de tudo, o seu gosto era fingir-se de valente. Vai de uma vez viu muitas moscas juntas e de uma pancada matou sete. Daí em diante não fazia senão gabar-se:
- Eu cá mato sete de uma vez!
Ora o rei andava muito aparvalhado, porque lhe tinha morrido na guerra o seu general Dom Caio, que era o maior valente que havia, e as tropas do inimigo já vinham contra ele, porque sabiam que não tinha quem mandasse a combatê-las. Os que ouviram o alfaiate andar a dizer por toda a parte: “Eu cá mato sete de uma vez!” foram logo metê-lo no bico do rei, que se lembrou de que quem era tão valente seria capaz de ocupar o posto de Dom Caio.
Veio o alfaiate à presença do rei que lhe perguntou:
- É verdade que matas sete de uma vez?
- Saberá Vossa Majestade que sim.
- Então nesse caso vais comandar as minhas tropas e atacar os inimigos que me estão cercando.
Mandou vir o fardamento de dom Caio e fê-lo vestir ao alfaiate, que era muito baixinho, e que ficou com o chapéu de bicos enterrado até às orelhas; depois disse que trouxessem o cavalo branco de Dom Caio para o alfaiate montar. Ajudaram-no a subir para o cavalo, e ele já estava a tremer como varas verdes; assim que o cavalo sentiu as esporas botou à desfilada, e o alfaiate a gritar:
- Eu caio, eu caio!
Todos os que o ouviam por onde passava diziam:
- Ele agora diz que é o Dom Caio; já temos homem.
O cavalo, que andava acostumado às escaramuças, correu para o sítio em que se combatia, e o alfaiate com medo de cair ia agarrado às crinas, a gritar como um desesperado:
- Eu caio, eu caio!
O inimigo, assim que viu o cavalo branco do general valente e ouviu o grito: “Eu caio, eu caio!”, conheceu o perigo em que estava, e disseram os soldados uns para os outros:
- Estamos perdidos, que lá vem o Dom Caio; lá vem o Dom Caio!
E botaram a fugir à debandada; os soldados do rei foram-lhes no encalço e mataram-nos, e o alfaiate ganhou assim a batalha só em agarrar-se ao pescoço do cavalo e em gritar: “Eu caio”.
O rei ficou muito contente com ele e, em paga da vitória, deu-lhe a princesa em casamento, e ninguém fazia senão louvar o sucessor de Dom Caio pela sua coragem.
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
sábado, 17 de agosto de 2013
sexta-feira, 16 de agosto de 2013
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
quarta-feira, 14 de agosto de 2013
terça-feira, 13 de agosto de 2013
O gato e o peixe - António Torrado e Cristina Malaquias
Ideias Giras... AQUI
Era uma vez um gato,
um gato gaiato com sonhos e cócegas de gato macaco.
- Vem daí, ó peixe, brincar-me no prato.
Ó peixe de prata, de prata barata,
vem jogar comigo ao gato e ao rato.
O peixe dançava nos olhos do gato.
Por dentro do vidro, voava em recato...
?Há perigo? Que perigo?
Estou vivo e bem vivo
e bem protegido"
Bolinhas subiam em ondas de ornato...
E o gato, um safado, malhado do mato,
Dizia, baixinho, de encontro ao buraco.
- Troquemos, peixinho, e já, sem demora,
eu vou para a redoma,
tu vens cá para fora.
É que ando cansado do ar que respiro,
suspiro por água. Nadando, sou foca,
sou pato a vapor, sou gato a motor...
Salta daí! Vamos! Troca!
O peixe descia... fugia... fugia...
Não ia em batota nem troca-baldroca.
- Ah, sim?! - lhe dizia o gato do mato
- Tens boca e não falas?
Mas, diz, finalmente não vais no contrato?
O peixe de prata, de prata lavrada
nadava, nadava...
Então, mais sensato, o gato-pingado
gritou para o buraco:
- Quebrou-se o contrato. Não brinco contigo.
Fica do teu lado, que eu fico onde fico
e desde já te digo,
meu carapau calado,
que hás-de afogado
morrer, para castigo.
Lá foi o gato amuado
pregar para outro postigo,
enquanto o peixe de prata
nadava de largo em largo
no lago feito baía.
E cada escama lhe ria...